Cartilha SCM
Logística resiliente?
Você conhece este tal de “Murphy” de que todos falam?
Ele tem lhe visitado com muita freqüência? Ah! Ele trabalha na sua empresa?
Vimos que as operações logísticas envolvem inúmeros processos, estratégias, recursos, materiais, procedimentos, informações e sistemas. Se existem tantas variáveis nestas operações, então muitos eventos indesejados podem ocorrer. Por outro lado, no moderno gerenciamento da cadeia de abastecimento esta expressiva vulnerabilidade já esta sendo considerada intolerável para os envolvidos. Neste sentido, vamos explorar o tema gerenciamento de riscos e como implementar esta tal “logística resiliente” para proteger nossas empresas e parceiros destes terríveis impactos negativos.
Iniciamos pela definição de risco, que é a conseqüência de um evento incerto que pode afetar de forma negativa um processo, projeto, negócio ou resultado de um empreendimento. O fato é que todo risco é uma combinação de probabilidade (grau de incerteza) com suas conseqüências (grau do impacto). Assim, implementando o gerenciamento de riscos a empresa se torna mais resiliente, isto é, melhor preparada para lidar com os riscos, com custos totais tão baixos quanto for razoavelmente aceitável.
O método de gerenciamento de riscos que usualmente utilizamos prescreve a identificação, quantificação e a elaboração dos planos de contingências. Esta metodologia busca identificar riscos, avalia-los e planejar respostas para eliminar ou minimiza-los, bem como controlar a implementação de medidas que aumentem a segurança e contenham acidentes, danos pessoais, financeiros, materiais, ambientais e à imagem das empresas.
Se surpresas são riscos que não foram previamente identificados, então o objetivo da etapa de identificação dos riscos é não ser surpreendido. Como no caso do incêndio na fabrica de circuitos integrados da Texas Instruments: Enquanto a Ericcson interpretou com relativa passividade o comunicado de que que os danos haviam sido restritos, a fabricantes de celulares Nokia acionou pró-ativamente medidas emergenciais que acabaram por lhe assegurar a continuidade do abastecimento e, por fim, sua posição de liderança neste mercado. Uma incerteza na oferta e uma falha na logística da Ericcson neste caso, no final das contas lhe custou a continuidade de sua operação. Entre outros exemplos podemos destacar também os riscos logísticos que provocaram recalls nos pneus da firestone nos Ford Explorer e, mais recentemente, aqueles que derrubaram os lucros da Sony em 2006, em função do recall nas baterias dos notebooks.
Entre as diversas metodologias que podem ser utilizadas, vale relacionar entre outras a técnica de desenhar a malha logística (descrita no terceiro artigo desta série); analises de estratificações, paretos e correlações de registros estatísticos; analise de causa e efeito (diagrama de Iswikawa); modelagem; prospecção por cenários; entrevistas e brainstorming; listas de verificações (check-lists); lições aprendidas de situações passadas; experiência de especialistas, FMEA (Análise de Modos de Falha e seus Efeitos) e HAZOP (Hazard and Operability Study).
Em termos de quantificação dos riscos existem diversos métodos, bem como softwares de apoio e simulação, para esta finalidade. Em seguida, após avaliamos os riscos, procuramos desenvolver estratégias preventivas para redução da probabilidade dos riscos, bem como preparamos medidas para conter a propagação dos danos, caso estes riscos se confirmem. Estas respostas aos riscos são então organizadas na forma de planos de contingências. Após a fase de planejamento, providencias são implementadas, e deverá haver constante controle e monitoramento dos gestores para o erfetivo acompanhamento dos riscos. Em síntese, é desta maneira que administramos uma logística resiliente, isto é, melhor estruturada para enfrentar riscos, procurando minimizar os efeitos preversos dos “Murphys”.
Para assegurar a governança de suas operações logísticas - adicionalmente ao gerenciamento de riscos - relacionamos a seguir algumas dicas simples que podem ser pertinentes para uma logística resiliente:
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Não negligencie os riscos, permitindo que eles simplesmente ocorram. Tome a iniciativa e avalie suas vulnerabilidades, para adotar as medidas de segurança que possam coibir possíveis desvios.
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Designar um profissional responsável pelos riscos da organização pode focalizar os esforços preventivamente, o que é mais usual quando já houveram grandes perdas em termos de segurança patrimonial.
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Desenvolva relacionamento com seus fornecedores estratégicos, e avalie meticulosamente estes fornecedores e parceiros, com relação aos sistemas de prevenção de riscos destes. Eles estão realizando triagens das pessoas contratadas por eles? O acesso destas pessoas em suas dependências esta sendo bem controlado? Eles também estão desenvolvendo programas de segurança?
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Formalize (padronize) procedimentos e automatize o fluxo de informações, evitando depender exclusivamente da disciplina das pessoas, que eventualmente podem falhar. Dispor dos registros históricos de ocorrências agrega subsídios para planejar as contramedidas.
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Assegure que o controle de seus estoques seja robusto. Entre os diversos indicadores gerenciais, a acurácia dos saldos demonstra mais do que a confiabilidade destas informações, demonstra que os processos físicos e administrativos estão efetivamente consistentes, sem “furos” ou lacunas.
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Garanta a integridade física de seus produtos e embalagens ao longo de toda a cadeia de abastecimento. Muito cuidado também com adulterações e pirataria, utilizando lacres e técnicas de rastreabilidade.
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Mantenha atualizado um plano de continuidade dos seus negócios, e faça simulações continuamente, mantendo a equipe sempre preparada para os riscos identificados.
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Reavalie contantemente sua segurança e a tecnologia envolvida, mantendo processo de auditorias com pessoas independentes da operação logística.
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Contrate seguros quando viável, e procure assessoria de especialistas sempre que possível.
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Mantenha backups de recursos em “missão crítica”.
Os estatísticos afirmam que os Murphys diabólicos se distribuem nos fenômenos da natureza e da economia como uma distribuição normal, e isto esta correto nos cenários brandos. No entanto Mandelbrot e a Teoria do Caos nos alertam que existem cenários brandos e exóticos, estes últimos mais prováveis do que os especialistas de riscos tradicionalmente presupõem. Em seus modelos convencionais os especialistas ainda desconsideram os cenários exóticos, ainda mais perigosos e catastroficos. Basta lembrar alguns acontecimentos recentes, como o acidente da plataforma P36, o furacão Katrina em Nova Orleans ou a Tsunami, todos eventos com probabilidade inferior a seis sigmas... Mas que aconteceram recentemente.
Conclusão
Enfim, apezar disto tudo, é um fato da vida que nem todos os riscos poderão ser atenuados, e que você se mantém em forma arriscando. Qual é a postura adequada (conservador, moderado ou arrojado)? No final das contas, para decidir considere que nós nos arrependeremos mais daquilo que deixarmos de fazer do que daquilo que fizermos errado. Então, de que forma você poderia arriscar um pouco mais hoje?